Cidades

Praia de Ponta Negra, em Maricá, recebe projeto de inclusão

Rene Lazário aproveita o mar com suporte dos guarda vidas. Foto: Wallace Rosa

As águas calmas e translúcidas da praia de Ponta Negra, no litoral de Maricá, foram as escolhidas para receber o piloto do projeto Tô Na Orla, com estrutura para auxiliar o acesso de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

A partir deste domingo (9) até o final de fevereiro, os banhistas terão à disposição duas cadeiras anfíbias — com capacidade de flutuação e rodas adaptadas para trafegar na areia — e uma equipe interdisciplinar de guarda-vidas, enfermeiros e fisioterapeutas.

O pontapé do projeto foi em condições favoráveis: com boa balneabilidade e termômetros chegando à máxima de 38°C, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Apenas pela manhã, cerca de dez pessoas com deficiência utilizaram o serviço de mergulho, oferecido pela Prefeitura de Maricá através da Secretaria de Proteção e Defesa Civil. A primeira banhista a aproveitar o mar foi a maquiadora Ivanir Ribeiro, de 53 anos, que reside no bairro de Araçatiba.

Desde que tornou-se cadeirante em decorrência de um acidente há quinze anos, Ivanir não havia tomado um banho de mar. Como o mergulho é apenas um dos desafios que pessoas com mobilidade reduzida enfrentam, chegar até a praia também havia se tornado inviável.

"Depois de mais de quinze anos sem pisar na areia do mar, foi uma experiência emocionante", garantiu. "Antes disso, apenas tinha conseguido molhar os pés na Lagoa de Maricá, onde tem gramado e é possível se aproximar".

A barraca que abriga a estrutura do projeto fica nas proximidades do Canal de Ponta Negra. Para acessar a barraca, a Prefeitura de Maricá instalou uma passarela até a barraca.

O guarda-vida Rodrigo Cooperman, um dos responsáveis pela operação, detalhou a dinâmica do mergulho. A cada mergulho na cadeira anfíbia, três guarda-vidas acompanham o banhista.

"Primeiro fazemos uma adaptação para a pessoa se ambientar na margem, sentir a temperatura da água. Mesmo que o mar esteja tranquilo, fazemos o cálculo da sequência das ondas, para que não tenha risco. Alguns querem apenas sentir o mar, outras entrar. Nesse caso, os guarda-vidas guiam a flutuação e avançam até a altura da cintura", explicou.

Maria Cândida veio de Duque de Caxias para mergulhar. Foto: Wallace Rosa

A estrutura do projeto chamou a atenção da família da aposentada Maria Cândida, de 71 anos. A filha Rosângela de Souza percorreu os mais de 100 quilômetros que separam Xerém, em Duque de Caxias, até Ponta Negra, para que Maria Cândida pudesse mergulhar com segurança.

"Eu tive um derrame aos 55 anos e perdi o movimento das pernas. Gostei muito, e já perdi as contas de quantos mergulhos já dei. Vamos voltar assim que der", afirmou a aposentada.

A filha, Rosângela, destacou a falta de estrutura nas praias para receber a mãe. "Ela adora praia, mas mesmo em praias como Ipanema e Cobacabana, não conseguimos entrar e ficamos no calçadão mesmo. São poucas opções" afirmou.

Rumos do projeto

A capacitação da equipe da Defesa Civil para o projeto foi realizada pelo Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Maricá. O presidente e fundador do colegiado, Rene Lazário. Aos 61 anos de idade e sem visão desde os 49, Rene atuou na capacitação e aproveitou a estreia do projeto.

"Quando se trata de prestar esse serviço para a população com deficiência é preciso ter um trato especial, como questões de coluna ou no caso de deficiências intectuais", detalhou o conselheiro.

O 'TôNaOrla' foi inicialmente pensado para as lagoas de Maricá e Araçatiba. "Estávamos querendo inaugurar o projeto há seis meses, mas precisava adequar as questões climáticas com a balneabilidade, depois desse final de ano chuvoso", relatou o idealizador do projeto Luiz Carlos dos Santos - que se mudou da pasta de Defesa Civil para trânsito em dezembro.

"A ideia do projeto é resgatar a cidadania e o acesso à praia, especialmente da população com deficiência, muitas vezes invisibilizada. Daí a importância de políticas públicas voltadas para essa população" afirmou. "Além disso, o custo operacional é baixíssimo e outras cidades poderiam oferecer", completou.

Serviço

O projeto funcionará todos os domingos, entre janeiro e fevereiro, na praia de Ponta Negra, em Maricá (altura do canal). A equipe fica disponível das 9h às 15h. A Prefeitura de Maricá vai publicar, toda sexta-feira, uma nota confirmando as atividades no domingo, porque os mergulhos são sujeitos às condições climáticas e do mar.

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